sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Hugo e a questão da inovação

Hugo frisou muito e bem a questão do tratamento não óbvio do material. Ou seja, não se trata de ilustrar o texto por meio de sons, imagens e movimentos. As operações de transformação do material é que são o foco. Pois é justamente na apropriação transformadora que o processo criativo se instala.

Processo criativo e tempo

Uma coisa que conversamos bem foi que não se pode centralizar toda a atividade do curso em sala de aula. É um engano achar que a discussão verbal vai suprir tudo que precisa ser feito. Cada um de vocês tem nos encontros uns quinze minutos de protagonismo. Imagine isso - desenvolver um processo criativo trabalhando apenas 15 minutos por semana e ainda mais apenas verbalmente.
Muito importante vocês observarem que estamos em guerra contra a inércia. E muito da inércia existe quando o verbal substitui o efetivo ato de fazer.
Marcus

sobre processo criativo e depois

COmo vimos no encontro, estamos na etapa de viabilizar as ideias, de encontra no espaço de realização uma revisão ou teste destas ideias.
Para tanto solicito que todos
1- iniciem concretamente seus processos criativos, estabelecendo quem participa dele, quando e onde;
2- iniciem e desenvolvam o registro e acompanhamento destas atividades, tanto por meio de blog- que deve ser postado aqui o endereço -, quanto trazendo para a aula imagens e informações sobre o que está se sucedendo nessa primeira fase.
3- estabeleçam um cronograma de atividades, importante para a organização do processo criativo, e para mim e para o Hugo.
abs.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Nossa aula de quarta feira

Espero que progressos tenham sido feito desde nosso último encontro.
Nesta quarta, seria bem oportuno que tem desdobramentos das discussões trazer.
Ou seja, um passo a mais das ideias. Ver como as ideias são enfrentadas pelo grupo com o qual você está trabalhando, com as pessoas com as quais você está trabalhando.

Seria bom pensar ainda no planejamento dos ensaios, no registro de seu processo criativo por meio de textos e imagens (videos). Isso precisa ser organizado por você, que conduz o seu processo criativo. Observar como as pessoas reagem à sua proposta.
abs.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Um brinde ao Vinho!

Hoje tive que colocar um espumante pra gelar e fazer um brinde ao Vinho!
Belíssima exposição do Prof. Gabriele. Encantado!
Poderíamos todos colocar as impressões e anotações da aula de hoje.
Seguem apenas algumas anotações

Dionísio não é uma divindade grega!!!! Revelador pra mim!

Dionísio, deus da ambiguidade.
Deus da Vida e da Morte / da Alegria e da dor / da Orgia e da Castidade
é Homem e Mulher / é Andrógino / é Velho e Criança
á Deus e Animal

Síntese de uma cidade / cultura: vinho, lei e imagem santa

É preciso desmascarar a verdade, desnudá-la - Parece, mas não é.

O vinho é um instrumento para sondar a alma.

Abraços

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Somos todos Monstros - Algumas anotações sobre a última aula.

Prezados colegas,

Queria compartilhar que gostei demais da nossa última aula. Foi incrível saber das ideias de cada um para seu  projeto de criação e entrar em contato com universos tão diversos e ricos. As intervenções de  Hugo e Marcus também foram inspiradoras. A química dos dois em aula tem sido para mim muito interessante  e estimulante! Somos muito privilegiados em termos dois mestres como estes, juntos só para nós! Gostaria de ter registrado tudo, talvez com uma filmadora...

É impossível fazer um resumo de nossa última aula, tamanha quantidade de informações e coisas interessantes que foram ditas. Dessa  forma segue aqui algumas frases e referências que anotei durante a aula nos poucos segundos que me ative a escrever, pois não queria perder um segundo de tudo que estava sendo dito. Tudo que anotei tem mais relação com o foco do meu trabalho,  mas talvez possa ser útil para alguém.  Por favor peço que me corrijam se errei algum nome de filme ou qualquer outra coisa.


Filmes: "Tom Jones" (kubrick),
            "Nunca é domingo"

Frases:

Não importa o ponto de partida.
Quanto mais difícil mais você pode ter um processo criativo diferenciado.
Pessoalizamos processos criativos.  Solipcismo- Começa e termina em mim.
Ponto de partida é diferente de material. (Guimarães Rosa usava livros de autoajuda.) 

Faz parte da metodologia trabalhar com algo que não vem de você.O importante é a negociação com o material que te apresentam.

No texto  o tempo e o espaço vão desaparecendo e vai ficando o discurso.

O texto é sobre sedução e não amor!
Sócrates é um sedutor!

Você pode responder Platão!
Muito da produção contemporânea tem trabalhado com a junção do mais antigo com o mais contemporâneo.

O texto tem pressupostos. Ele vai reagir se você vier com idéias que não tem intersecções com eles.

O texto tem pelo menos 3 mitos.

Procure caminhos e não soluções!

Beber quatro copos de vinho pode despertar o monstro em você. Somos todos monstros!

sábado, 17 de setembro de 2011

Closet Drama

Colegas,

Segue um link da wikipidea sobre closet drama, que são peças teatrais que foram escritas sem o intuito de serem performadas no palco. Eram escritas para serem lidas por um leitor solitário, ou no máximo para ser lida em voz alta para um pequeno grupo. Lá diz que esses "dramas de escritório" são, geralmente, ricos em retórica filosófica e que os diálogos filosóficos da Grécia e Roma antiga, como os de Platão, foram escritos na forma de conversas entre "personagens" e por isso similar ao closet drama.
Vou pesquisar um pouco mais sobre isso.
http://en.wikipedia.org/wiki/Closet_drama
Abraços,
Samir

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

16 de setembro

Caros colegas,

Eu gostaria de compartilhar com vocês o sonho que tive esta madrugada.
Estávamos todos reunidos em uma grande mesa de madeira em um campo aberto ao ar livre. Não me recordo ao certo da fartura nem da qualidade da comida, mas me lembro da bebida que foi trazida por uma das mulheres. Um frasco negro circundado ao centro por 3 listras brancas. Continha um liquor viçoso de coloração dourada, lembrava um uísque (influências de Hugo).
A certa altura, quando já tinhamos as consciências alteradas pela bebida e pela alegria, nos reunimos em círculo de mãos dadas. O professor Marcus pronunciava palavras de elogio às cores, me recordo do vermelho. Outras pessoas chegavam animadas e excitadas. No auge do êxtase, o Marcus vestiu um véu como uma máscara e começou a dizer coisas como se fossem revelações, como se os segredos do universo saissem de sua boca. E aí vislumbrei uma grande guerra intergalática, onde o campo de batalha era a órbita terrestre.
Fui acordado por um vento frio que entrava pela janela, ao fechá-la me deparei com Aurora despontando no horizonte. Agradeci aos dois e voltei a dormir.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

aproveitar as folgas

Arte e contemplação estão juntas, para a ação.
Aproveitem melhor o tempo quando nao estamos em aula.
nao deixem apenas para nossos encontros presenciais coisas que vocês podem fazer.
Ou seja, ler o texto, buscar bibliografia secundária, discutir o texto e suas ideias com outras pessoas, procurar o grupo com quem você quer trabalhar, montar sua equipe, se planejar, estabelecer cronogramas e ações.
abs.

sobre o projeto de criação

Nesta quarta feira dia 14 vamos discutir as propostas de realização. Vejam, uma coisa fundamental é ter lido, relido, treslido o texto. Isso é parte de sua atividade, de sua pesquisa, preparar-se para a realização.
Vimos que há algumas dificuldades, como o afastamento temporal(pois isso foi escrito há dois mil e quinhentos anos em outros tempos, cultura, etc), a abstração das discussões sobre o amor, etc.
Mas vejam isso: é a própria dificuldade que pode ser o impulso para o projeto. Se a coisa parece abstrata, por que não colocar isso em cena? O abstrato diz respeito a ideias, não é? Então você possui várias decisões: materializar o abstrato, ou encenar o abstrato, ou parodiar essa abstração de gente que fala sobre o amor e não ama, ou se essa situação de encenar temas clássicos te parecer aberrante desconstruir isso, ou se essa situação de encenar temas clássicos te parecer sedutora encenar isso.
Ao fim, o projeto projeta para a cena a situação do intérprete: o que eu vou fazer com isso, com esse texto, com esse autor, com essa situação. É assim que você se engaja em algo: transformando a situação do intérprete na cena mesma.
abs.

Legal !!! As aulas estão todas no blog

Agradeço a dedicação e paciência de todos os que prontamente se colocaram a anotar e postar as aulas. Vejam que rico material nós temos. Estamos começando a funcionar.
abs.

domingo, 4 de setembro de 2011

Aula do dia 31/08/2011 - transcrita pelo colega Josuel Junior

A aula teve início com uma discussão acerca da proposta que será executada pela turma ao final do semestre.

Temos todos o seguinte desafio: materializar a ideia sobre a montagem em sinopse de uma página para a próxima aula. Primeiramente, será importante a definição do estilo. Esse estilo não necessariamente tem que ser pensado dentro de uma encenação conjunta, pois somente depois do processo em andamento, as questões estruturais da/das apresentação/apresentações serão fechadas.

Marcus salientou que num processo de pesquisa, mesmo com cunho prático, é preciso se familiarizar com as fontes do tema. O diálogo e contato com os processos de pesquisa deverão ser conduzidos entre a prática aplicada de acordo com uma bibliografia específica. Corrigir abstrações e estruturar os conceitos, devaneios, afãs em materialidades/ materializações ajudara a compreender melhor o trabalho individual e coletivo (de acordo com a realidade da turma).

Dentro da pesquisa monográfica, deve ser primeiramente a bibliografia primária e só depois os comentários sobre o objeto de pesquisa. É claro que se o foco da pesquisa for justamente os “comentários” sobre um tema ou objeto, aí sim a metodologia poderá ser acatada.

Algumas discussões sobre a pesquisa em prol de um conceito/produto surgiram e Marcus e os colegas de turma deram início a um diálogo. Dentre as conversas, vimos que em arte há uma combinação de pesquisa bibliográfica e etnográfica. Se o autor for pesquisar um grupo de teatro, o trabalho será mais bem executado se combinar o material de texto, vídeo, etc. com sua vivência com o grupo pesquisado. Sua observação pode ser de observação dos processos ou de observação participativa.

Se o autor sentir dificuldade de pesquisar sua própria participação nos processos, aconselha-se a pesquisar o processo dos outros.

O professor Marcus Mota deixou claro que o que já estamos realizando em sala de aula faz parte do processo criativo e lançou algumas questões:

Quando eu leio um texto eu explico o texto ou eu tento ver novas formas de entendimento sobre ele? Entender termos e conceitos é leitura prévia. Depois deve-se ter uma leitura mais analítica, e citou exemplos:

1 – Leitura de reconhecimento – Entender o texto;

2 – Leitura aprofundada Entender como ele se organiza. Entender sua poética – como o que estamos fazendo com a obra de Platão.

O texto já possui conteúdo e organização. Já possui sua própria poética e organização. Nosso trabalho é encontrar na obra esses elementos e, para isso, é preciso compreender os referentes mínimos do texto.


1º Nível – Reconhecimento

2º Nível – Organização; como ele está colocado. O que é.

3º Nível – Aplicação. O que fazer com tal conhecimento? Colocar o que foi lido aos critérios da pesquisa do leitor: Uso isto para aquilo.


O texto já é encarado como um obstáculo artístico, mas é possível usá-lo ao seu favor. Uma coligação.

Quando se lê uma obra, o leitor a lê do seu jeito, mas não pode esquecer que o livro já existe, que já foi registrado. Neste momento discutimos sobre a apropriação do leitor ao conteúdo da obra e foi lembrado que para desconstruir é preciso primeiramente construir ou entender um conceito/linguagem. A desconstrução só é opção quando se tem uma tradição.

Sobre o trabalho de pesquisa e realização de montagem de obra artística no Brasil, foi preciso um passeio rápido pela história do país para entender melhor o fazer teatral, principalmente o do final do século XX e início do século XXI. O Brasil é um país em que a metrópole veio com para a sua colônia e os menos favorecidos tinham como uma curiosa ideologia querer ser parecidos com os superiores – os inimigos. Aqui o paradigma textualista era muito forte graças ao sistema europeu, porém, o país se acostumou ao abstracionismo, talvez um dos principais fatores desta constatação no século XX foi a repreensão da ditadura militar. Era preciso sair do texto e usar metáforas para se comunicar, para passar uma mensagem a algum público.

Em finais dos anos 1990 veio, segundo colocação irreverente de Marcus Mota, a “volta do texto”, mas ele tinha ido embora? – Esta foi sua indagação, seguida de sua constatação de que as linhas de trabalho no teatro, por vezes, seguem uma tendência, uma moda. Nas seguintes datas hipotéticas, de acordo com vivência e experiência do professor, aconteceu uma série de transformações e preferências nas formulações de estéticas aplicáveis ao trabalho artístico:

O “regresso” do texto no Brasil – Finais de 1990

O “boom” dos Musicais – Começo dos anos 2000

Preferências por Manifestações Populares – 2003

Tecnologias do Teatro – 2006

Marcus lembrou que hoje não somos mais reféns do pensamento de que o “Teatrão” é ruim e de o bom espetáculo é aquele que ninguém vai, pois só agrada a uma minoria de intelectuais e colegas de trabalho – dicotomia, claro. Lembrou também que falta de domínios não é passadismo, não é tradicionalismo e que é preciso estudar o referencial, rever, pensar novas alternativas de um texto clássico. Para que esse texto clássico possa de se tornar “encenável” ele precisa dialogar com o artista, com a sociedade e com o aqui-agora.

Ao buscar em textos antigos a inspiração pra seu trabalho, o artista-pesquisador estará desconfiando do seu presente. Não é apenas mergulho no passado, mas é uma forma de se problematizar a relação do artista com o seu tempo. Como uma espécie de desafio antropológico. Um outro olhar sobre sua própria cultura. O Artista pesquisador é aquele que questiona não apenas a obra que vai pesquisar, mas em qual livro a encontrou, se este livro é a sua melhor edição - Detalhes que fazem toda a diferença.

Tais desafios problematizam o intérprete, mas isso dará estímulo ao processo criativo.

Falando sobre processo criativo, Marcus nos ajudou a perceber a existência da musicalidade latente a obra de Platão e colocou em discussão um novo elemento para composição de linha dramatúrgica: o Som. Dando alguns exemplos, Marcus nos lembrou que nos estimulamos mais quando pensamos a partir do som e, num exemplo simples, contextualizou sua incitação: “O som a gente sente em 360º, A visão só em 180º”. Tudo isso foi percebido porque foi encontrada certa musicalidade na obra.

Não somos educados a pensar a partir do sim. Os gregos já propunham isso - Basta se lembrar da tradição de cantos e contos das batalhas gregas que viraram obras literárias, como as de Homero.

Após esta introdução da aula, dói dada continuidade à discussão sobre o texto de Platão.

O Banquete, um drama controlado, com longos discursos apresenta a visão platônica que tem por tendência autenticar o conhecimento. A festa da obra não acontecia em honra de Sócrates, porém, ele rouba o foco dela. É como se o banquete fosse uma celebração ao conhecimento de Sócrates.

O discurso de Platão elimina o diferente, confirmando que a filosofia foi desenvolvida por m grupo minoritário. A alusão mais coesa sobre o trabalho e ação desta elite foi colocada em sala de aula. Refletimos a organização de quem detém os poderes sobre o povo através do exemplo do julgamento de Jaqueline Roriz, deputada brasiliense que cometeu crime gravado e comprovado. No caso de seu julgamento, uma minoria, uma elite intelectual, a julgou inocente. Esta elite intelectual, como na antiga Grécia, discute e reforma suas idéias em nome do povo, mas acaba sendo um discurso contra a democracia, pois diziam (e dizem) que o que decidem é pelo povo, mas é para sua própria necessidade particular ou de sua corte.

As consequências do pensamento platônico para o ocidente culminou em um grupo reformador que decide o que é certo ou errado, excluindo o diferente.

Mais exemplos foram colocados em discussão no decorrer da aula. Os temas discutidos em O Banquete são como uma lógica de coesão do grupo. O Amor falado por eles é diferente do amor pregado por Jesus de Cristo, por exemplo, Não é o amor a todos, mas o amor aos seus, ao grupo, à corte, aos familiares, a quem está próximo, diferente do pensamento cristão, que pregava a então “absurda” ideia de amor a todos.

Esta elite apresentada em OBanquete partilhava de valores na forma da competição. Quando os melhores se encontravam, a graça era perceber que, dentre eles, era o melhor dos melhores. Uma disputa da demonstração. Isso faz entender melhor a eterna busca pela Fama, nos tempos atuais. A projeção de uma pessoa sobre os vários outros mortais da terra. E O Banquete era um elogio a esse modo de pensar, agir e viver.

A visão do filósofo que vive trancado é uma visão da renascença... Na Grécia o pensamento dos intelectuais era constantemente compartilhado e discutido. Sócrates e suas idéias salientam essa vontade em discutir novos conceitos.

A bebida era fundamental nesses encontros.. Falam também da capacidade de se agüentar o efeito do vinho, numa espécie de competição de habilidades de quem não agüentaria mais e mais doses.

Durante o discurso, textos são citados, como os de Homero. Todo o texto de O Banquete é feito de outros textos.

Compreendendo a estética da obra, torna-se mais fácil compreender sua própria poética.

E a relação homossexual, que, volta e meia, era colocada em questão em diversos pontos do texto? Marcus Mota explicou que na obra realmente há uma alusão à homossexualidade, porém, é salientou que a homossexualidade na Grécia Antiga aconteciam em ocasiões excepcionais, como nas guerras, já que se combatiam em duplas por longos períodos e por uma elite que podia tudo, entre ricos. Entre os cidadãos que não pertenciam a essas classes, a homossexualidade não era tão bem aceita.

A história da humanidade, de acordo com exemplo dado por Marcus, se resume numa curiosa constatação: Gente fazendo porcaria e gente tentando corrigir a porcaria dos outros, o que segue até os dias de hoje.

Em O Banquete, cada um deveria fazer um discurso ao Amor. O melhor seria acatado, porém, é um discurso fora do tempo e do espaço, projetado para além. (se formos pensar em cronologia lógica de uma festa).

Será possível conseguir alcançar o limite abstrato de tempo e espaço numa encenação? Isto veremos no decorrer da disciplina.

A palavra Belo tinha um outro sentido na antiguidade. Belo era como algo bom – que atingisse as pessoas. Questionava-se tudo tendo o uso da palavra “Belo” entre as discussões. Se o discurso fosse bonito, o que seria discutido posteriormente é se ele seria facilmente encaixado na realidade, nas situações concretas da vida. Por isso, Sócrates “ganha” em conceito, pois ele não apenas propôs, mas incitou o grupo a agir através de situações concretas. Ele, de certa forma, criou uma crise de valores na sociedade.

Fala-se também em O Banquete sobre o Amor, mas não o amor celeste, mas também o amor carnal. Não existia na antiguidade UNIDADE-TEMA – Por mais que você tivesse um tema, você falava de várias outras coisas. A nossa lógica é a de síntese e foco. A deles era a de agregação e acumulação de informações. Eles trabalhavam muito com variação, embora o eixo temático fosse o amor. Talvez por isso, às vezes, o texto parece não seguir uma lógica de raciocínio contínua. A unidade do discurso não estava propriamente na fala, mas em QUEM fala.

O professor reforçou que é possível usar um texto conceitual e fazer ele materializar-se de diversas formas. E lançou mais uma pergunta: Consigo transformar um texto conceitual num discurso dramático?

Dentro do trabalho que executaremos deu também algumas sugestões, como a de trabalharmos pensando na sedução do espectador, tal quais os homens reunidos em O Banquete faziam para defenderem suas idéias e conceitos. O erotismo também pode ser trabalhado, nas devidas proporções do que pode vir a ser este processo de disciplina. Numa metáfora, ainda foi colocado que amamos aqueles que nos conquistam. Porque não conquistar o nosso público?

Uma coisa curiosa sobre O Banquete é que nele homens viris, másculos estavam sentados em luxuosas poltronas para falarem de amor. Isso é uma antítese interessante (se é que pode ser considerada uma antítese).

Como alguém se transforma no amador de alguém? Nossa relação com a plateia pode ser sim uma relação de sedução.

Uma colega citou que com atores acontecem muito o que aconteciam com os filósofos em O banquete... Um queria ser melhor do que o outro, numa manifestação egóica.

Após o intervalo, discutimos o texto de J. Kennedy – Ele dividiu o texto de Platão em linhas e colunas e percebeu que havia uma certa harmonia de acordo com o enredo. Em momentos desarmônicos, percebeu que louvores, situações positivas não eram utilizados. Isso o fez dividir a obra entre pontos positivos e pontos negativos.

Pontos positivos: Altamente valorizados no platonismo, ou por louvor ao Amor.

Pontos negativos: A linguagem é usada para promover desarmonia social.

Após longa pesquisa, entendeu que a média de letras por linha, dentro das primeiras edições em rolos realizadas na Grécia, era a de 35 caracteres, tendo como base os poemas de Homero. Com isso constatou que Platão seguiu a risca este “padrão” para compor sua obra. Kennedy dividiu o livro em 12 partes. As metades eram geralmente o clímax das histórias. Numa parte os louvores, fatos positivos e em outra parte as desventuras, fatos negativos.

Trazendo essa metodologia de edição literária para uma estrutura e organização dramática, teríamos cada um cerca de 05 minutos de performance. Esses cinco minutos, caso sigam a divisão dos 12, teriam 12 partes fracionadas de 42 segundos, cada, para realizarmos o trabalho. Claro que, neste primeiro momento, são exemplos abertos, pois pode ser que uma performance tenha 10 minutos e a outra seis minutos.

Estamos acostumados com três tipos de estruturas de dramaturgia:

Contínua – Começa aqui, termina ali (Como nas novelas de TV);

Descontínua –Começa aqui, tem partes aleatórias;

Fragmentada – Onde para contar uma história não necessariamente precise iniciar do começo e terminar com o fim.

Se fossemos colocar uma matemática de composição da nossa performance final, podemos seguir a lógica de estruturação de acordo com os picos da dramaturgia entendidos por Kennedy:

1 – Um fator comum / 2 – Fator comum desaparece / 3 – Volta o fator comum/ 4 – Continua o fator comum/ 5 – Fator comum desaparece/ 6 – Fator comum volta e acontece o ápice, pois é metade da estrutura/ 7, 8 e 9 – continua o fator comum/ 10, 11 e 12 o fator comum está ausente... para entender melhor ver quadro no texto de Kennedy http://personalpages.manchester.ac.uk/staff/jay.kennedy/Kennedy_Visual_Intro.pdf

Essa estrutura surpreende o público por não deixar explícitas as ordens e relevâncias dos acontecimentos e fazem com que se encerre sem uma aparente conclusão – como na obra O Banquete.

Que tal se em vez de pensar num tema, pensarmos na organização/estrutura na qual ele será encaixado? São outras possibilidades dramatúrgicas.

Marcus reforçou que é extremamente importante nos enxergarmos como condutores do processo. A simulação de um processo criativo JÁ É o processo criativo.

Para a próxima aula (15/09) temos que apresentar em uma folha A4 o release do que pensamos para nossa cena/performance/quadro e defender e discutir coletivamente em sala de aula a nossa proposta.

Para encerrar a aula, mais umas provocações de Marcus...

Como transformar este caos em algo inteligível?

A gente pensa tudo ao mesmo tempo agora, mas quando for realizar, é uma coisa de cada vez.

É preciso que você sonhe muito para realizar o suficiente.